Tóquio, Japão — A indústria de transporte por caminhão do Japão está prestes a enfrentar regras mais rigorosas, potencialmente desencadeando uma onda de atrasos em entregas que afetará desde o fornecimento de componentes de fábricas até a disponibilidade de alimentos frescos nas prateleiras dos supermercados.
Há décadas, o setor de carga do país confiou em trabalhadores com salários baixos, sujeitos a longas horas extras, para realizar o transporte de produtos por meio de caminhões.
Essa dinâmica está prestes a mudar em abril, quando uma lei aprovada em 2018 para limitar as horas extras, finalmente entrará em vigor para os caminhoneiros, com um limite de 960 horas por ano.
Embora a mudança tenha como objetivo melhorar o equilíbrio entre trabalho e vida, é provável agravar a já existente escassez de motoristas. Em resposta, o governo planeja alocar cerca de ¥16 bilhões (US$109 milhões) em medidas de alívio, como parte de um orçamento extra que deve ser aprovado pelo parlamento nesta quarta-feira (29).
Quase 30% das empresas entrevistadas pela Associação de Transportes por Caminhão do Japão relataram possuírem caminhoneiros que ultrapassavam o limite de 960 horas extras por ano. Sem essa prática, a demanda por entregas poderia superar o fornecimento em cerca de 35% até 2030, segundo o Instituto de Pesquisa Nomura.
O governo está implementando diversas medidas para mitigar a escassez, incluindo a promoção do transporte por trem e navio, uma vez que atualmente mais de 90% da carga doméstica é transportada por rodovias.
Outra proposta em consideração é a digitalização da indústria para reduzir os tempos de espera para os motoristas e aumentar a eficiência.
A apenas quatro meses da entrada em vigor da lei, muitas empresas de pequeno porte ainda utilizam folhas impressas, alertou Yukari Shimomura, proprietária de uma empresa de carga em Nara, destacando a falta de recursos humanos para adotar soluções de alta tecnologia.
Além dessas ideias, um painel de aconselhamento da Agência Nacional de Polícia está considerando o aumento do limite de velocidade em vias expressas para caminhões de grande porte dos atuais 80 km/h, uma proposta que enfrenta críticas devido aos riscos de segurança.
O governo também está planejando um sistema de recompensa para desencorajar os consumidores a solicitar reentregas em casa, na tentativa de liberar mais motoristas. Além disso, incentivará o recrutamento de mais mulheres e cidadãos estrangeiros para aumentar o número de motoristas disponíveis.
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